21.11.08

Epitáfio

Lendo o imperdível blog da Barbara Gancia, deparei-me com a tradução do poema "Funeral Blues" de W.H.Audren, do filme "Quatro Casamentos e Um Funeral". Um poema lindo no original e sublime na tradução de Nelson Ascher que, espero, seja sentido por ao menos uma pessoa - qualquer uma! - que esteja presente em meu funeral.
Não pensem que eu seja ou esteja mórbido ou algo que o valha, mas é que pensar na morte nos faz pensar em como vivemos.
Se durante a minha vida, durante meus erros e acertos, uma só pessoa sentir a dor e a beleza do que significa este poema, é porque ao menos para alguém eu tive importância.
Não, não tenho a pretensão de que tal poema seja lido em público e tampouco que seja meu epitáfio. A única coisa que espero é ter alguém, seja amigo ou parente, que me ame a ponto de sentir tudo o que este poema contém: aquela dor inexplicável de quem perde a pessoa amada.


W. H. AUDEN — FUNERAL BLUES

Stop all the clocks, cut off the telephone,
prevent the dog from barking with a juicy bone,
silence the pianos and, with muffled drums,
bring out the coffin, let the mourners come.

Let airplanes circle moaning overhead
scribbling on the sky the message: he’s dead.
Put crepe-bows round the white necks of the public doves,
let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
my working week, my Sunday rest,
my noon, my midnight, my talk, my song.
I thought that love would last forever; I was wrong.

The stars are not wanted now, put out every one.
Pack up the moon, dismantle the sun.
Pull away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good.


W. H. AUDEN – BLUES FÚNEBRE

Detenham-se os relógios, cale o telefone,
jogue-se um osso para o cão não ladrar mais,
façam silêncio os pianos e o tambor sancione
o féretro que sai com seu cortejo atrás.

Aviões acima, circulando em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Pombas de luto ostentem crepe no pescoço
e os guardas ponham luvas negras como breu.

Ele era norte, sul, leste, oeste meus e tanto
meus dias úteis quanto o meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto.
Julguei o amor eterno: quem o faz se engana.

Apaguem as estrelas: já nenhuma presta.
Guardem a lua; e o sol também foi o bastante.
Recolham logo o oceano e varram a floresta.
Pois tudo mais acabará mal de hoje em diante.

27.10.08

Reminiscências em duas rodas I



Eu radicalizando (u-hú!) na terra de um terreno baldio.
Ao fundo, meu irmão.



Por absoluta falta de vontade de tratar de assuntos mais relevantes como eleições, caso Eloá, o sentido da vida, a peruca do Silvio Santos, a perna mecânica do Roberto Carlos, o casamento virgem da Sandy, o E.T. de Varginha, a cura da calvície, etc, vou começar a escrever uma série com algumas memórias totalmente irrelevantes, de coisas que fiz e que teimam em permanecer gravadas na minha velha cachola.
Não é segredo para ninguém que uma das coisas que me faz mais feliz é poder andar em qualquer coisa que tenha duas rodas.
Isso desde os meus tenros cinco anos de idade, quando ganhei minha primeira bicicleta – com rodinhas. Era uma linda Caloi Berlinetinha.
Nela me aventurava no enorme quintal de casa e de vez em quando – suprema aventura – andava quatro quarteirões acompanhado de minha mãe até a praça da Igreja perto de casa.
Foi nessa bicicleta que descobri o gosto pela aventura e a dor de alguns ralados, afinal correr de bicicleta com rodinhas na praça é um esporte um tanto arriscado. Não é brincadeira, não. As rodinhas, ao contrário do que muita gente pensa, não ajudam a equilibrar a bicicleta em movimento, mas impedem que as curvas sejam feitas como mandam as leis (da física) e... CHÃO!
Convencido pelos mais velhos de que as rodinhas mais atrapalhavam do que ajudavam, fui até a esquina de casa – sem atravessar a rua, porque mamãe não deixava – e pedi ao vizinho mais velho que as retirasse.
Orgulho total! Cheguei em casa andando de bicicleta sem rodinhas! Agora a liberdade era plena.
Sonhava em pilotar motos, aqueles veículos grandes e barulhentos, que só os “filhinhos de papai” tinham condições de possuir.
Mas enquanto as motos não vinham... dá-lhe bicicleta.
As bicicletas que povoavam meus sonhos eram a BMX tanquinho, a Caloi F1, a Monark Tigrão, além da Caloi 10, sonho mais distante porque minhas pernas não alcançavam a distância do banco aos pedais.
Nesta época, embora vivesse pedindo uma bicicleta nova, acho que meus pais não queriam incentivar um futuro motoqueiro, e fiquei um bom tempo com a Berlinetinha.
Lá pelos 9 anos, ganhei uma Monark Monareta, aro 20. Na época já folheava revistas de moto e admirava os pilotos de motocross. Depenei a Monareta, troquei seu garfo por um mais “parrudo” e lá fui eu atrás de terrenos baldios, onde a meninada construía “pistas de bicicross”. Claro que a Monareta não era a bicicleta apropriada e, aproveitando-me do pedido do meu irmão – de ganhar uma bicicleta –, convenci meus pais a comprarem duas BMX Pantera, com freio a tambor e tudo o que uma bicicross deveria ter.
A partir daí era uma festa. Os finais de semana eram sempre assim: sábado construção ou modificação das “pistas” da molecada nos terrenos baldios. Domingo andávamos até a exaustão.
Fazíamos também rampas com pedaços de madeira e tijolos, latas, ou qualquer outra coisa que servisse como suporte para uma das bordas da tábua. Nessas rampas, costumávamos colocar uns aos outros deitados para pularmos sobre os infortunados. Ainda bem que nunca ninguém se machucou seriamente.
Eu continuava sonhando com as motos, mas matava os meus desejos com a bicicleta, o que foi até os 14 para 15 anos. Nesse meio tempo, mais precisamente aos 11 anos tive o prazer de pilotar pela primeira vez um ciclomotor. E a partir de então não havia mais o que fazer: virei motoqueiro (na época não havia diferença entre motoqueiro e motociclista) de corpo, alma e coração, ainda que não tivesse moto.
Mas isso é outra história...

2.10.08

Admirável


Tenho estado em falta com esse espaço. Não sei se é porque estou numa fase mais conturbada, onde não sobra tempo para posts mais leves ou bem-humorados, ou se cansei de malhar em ferro frio, criticando via blog os absurdos que a gente costuma ver por aí. O fato é que estou com pouco assunto - ou seria pouca disposição? - para escrever.

Mas a despeito de tudo isso, ontem eu voltei ao pedal das quartas à noite, com as meninas da "Hora do Blush", que organizam o "Le Veló".

Nesse retorno tive duas gratas surpresas. A primeira foi que eu não piorei tanto em meu preparo físico. Fiz todo o trajeto e ainda fui pra casa sem me cansar.

A segunda surpresa foi conhecer pessoalmente uma menina muito simpática e atenciosa: Jacqueline Mourão. A melhor atleta de Mountain Bike da história do esporte no Brasil, e que representou brilhantemente nosso País em duas Olimpíadas e um Olimpíada de Inverno (na modalidade de esqui na neve!), é uma pessoa fantástica. Conhecê-la pessoalmente me fez admirá-la ainda mais.

No começo do passeio, Jacque (estamos íntimos...) vestiu uma camisa igual à dos participantes e ficou no meio do grupo (longe dos seus amigos que são monitores do grupo e usam camisas diferentes para poderem controlar o pelotão e o trânsito). Ela preferiu se misturar à plebe. Eu fiquei perto, sem conversar com ela, mas prestando atenção. No meio do grupo, Jacque andou perto das meninas mais novas e deu a elas algumas dicas, sempre com um largo e belo sorriso e a humildade de dizer antes um "Oi, tudo bem? Posso te dar uma dica?". Jacque parou para consertar as marchas da bike de uma garota... Jacque sorria e aceitava os cumprimentos dos seus fãs e conversava longamente com alguns deles, até dando dicas sobre ritmo, treinamento, etc.

Em duas horas, Jacqueline foi capaz de atender a todos os que lhe solicitavam, sempre - sempre - estampando um sorriso.

Tirei até uma foto com ela!



De tudo isso, posso dizer que o passeio de ontem me fez muito bem, pelo aspecto físico e mental e, principalmente, por ter conhecido a admirável Jacqueline Mourão.

13.6.08

Sr. Ouvidor. Não fale, apenas ouça.

Fugindo ao costume de escrever à noite, este post foi feito logo pela manhã após ouvir declarações risíveis do novo Ouvidor da BHTRANS (empresa que controla o trânsito em Belo Horizonte), cujo nome não me vem à memória.
Em entrevista à rádio Band News FM local, o ouvidor disse duas pérolas:

1- A BHTRANS não é responsável pelos problemas de trânsito de Belo Horizonte. (!!!???)

2- A imprensa dedica uma página para reclamar do trânsito, mas seis páginas para "vender carros". (!!!???)

Quanto à primeira assertiva, presumo que o Ouvidor esclareceu as dúvidas dos cidadãos de Belo Horizonte, já que deixou patente que a BHTRANS é responsável somente pela aplicação de multas, onde os fiscais que atingirem a meta de 18 (dezoito) multas por dia ganham um dia de folga extraordinária. Por outro lado, se a BHTRANS não existe para solucionar os problemas de trânsito, qual a razão de sua existência? Mal utilizar o dinheiro do contribuinte?

Quanto à segunda afirmação, esquece-se o Ouvidor que a imprensa vende anúncios para poder fazer frente aos seus custos e gerar lucro, como qualquer empresa? Tal afirmação, somada à outra que ouço diariamente na mesma rádio de notícias, de que "Segundo a BHTRANS, o trânsito está retido devido ao grande número de veículos nas ruas", me fez compreender que, para a BHTRANS, os culpados do caos no trânsito são os veículos! Acabem com os veículos que o trânsito melhora!

Ora, ora! Senhor Ouvidor, não seria o caos no trânsito decorrente da falta de uma política decente de transporte público, onde a BHTRANS tem fundamental papel para sua implementação? Não seria o caos no trânsito decorrente da falta de planejamento viário e semafórico, onde também a BHTRANS tem papel fundamental? Não seria o caos no trânsito decorrente da falta de destinação correta do dinheiro arrecadado com as milhares de multas diárias, dinheiro este que a BHTRANS ajuda a destinar?

Não, não, meus senhores. Para a BHTRANS, o problema do trânsito é o trânsito! Acabe com ele e acabarão os problemas. Acabam-se os problemas e a BHTRANS passará a ser o que - parece - mais deseja sua direção, que se esforça desde sempre, através de sua falta de atitudes concretas, para isso: Um local onde se ganha o salário sem trabalhar, sem pensar em soluções. Como acontece com a grande maioria dos órgãos ligados ao poder público.

Senhor Ouvidor, aceite meu conselho: Ouça mais e fale menos.

3.6.08

Telhados de cristal

Lembram do caso Max Mosley e sua orgia com motivos nazi-sadomasoquistas? Pois é. Pelo menos junto à FIA o caso está solucionado, ficando pendentes apenas as ações judiciais de Max Mosley contra o tablóide News Of The World (iniciais maiúsculas porque o jornal é conhecido como NOTW). A fia aprovou uma "moção de confiança" ao seu presidente, que sai extremamente fortalecido politicamente e vê seu desafeto da vez, o agora ex-parceiro Bernie Ecclestone, enfraquecido.
O voto dos que poderiam derrubar Max - assim como ocorreu no caso Renan Calheiros - foi secreto, o que explica a não derrocada do homem forte da Fórmula 1. Explica porque, assim como no caso Renan, todos ali têm seu suntuoso telhado feito do mais fino cristal.
Nelson Piquet disse algo mais ou menos assim a respeito do episódio envolvendo Max: "Estou decepcionado com o Max... decepcionado porque fez uma festa dessa e não me convidou. Todo mundo na Fórmula 1 faz dessas coisas (orgias)."
Porém o "tema" da orgia foi um campo de concentração...
O que Max fez de ilícito foi trair sua família, e isso se resolve no âmbito familiar e judicial, na vara de família.
Não estou defendendo o que Max Mosley fez, mas também não posso dizer que cometeu um crime. Suas perversões sexuais, realizadas com ajuda de profissionais, a despeito de o exporem a uma situação constrangedora, não podem ser tratadas como crime, porque não houve qualquer lesão a direito de terceiros, somente ao próprio Max. Mas Max foi julgado por, numa "festinha" privada, ter ferido direitos dos Judeus, ainda que a orgia tivesse sido realizada sem a presença de qualquer judia e privadamente.
E o Ronaldo, hein? Agrediu algum grupo gay ao ter contratado os travestis e os dispensado pagando o programa? E se não os tivesse dispensado? Teria ferido os direitos dos homossexuais? Qual a diferença entre o que Ronaldo e Max fizeram? Só o tema.
No fundo os mais prejudicados foram eles próprios.
O fato é que o que é privado vai se tornando público com cada vez mais frequência. E o que não é crime vai assim se constituindo perante uma opinião pública que leva a bandeira do lema "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço". E quando os frágeis representantes dessa opinião pública têm a chance de votar secretamente, sabendo inclusive que cedo ou tarde poderão estar sob a mira de uma artilharia de flashes... ABSOLVA-SE!!!!

24.3.08

Geni Bueno

Estou, no momento em que escrevo, me preparando para acompanhar o Grande Prêmio da Malásia de Fórmula 1. Tenho duas alternativas para ver a corrida e quatro alternativas para ouvir a narração. Explico: Posso ver o GP pela Globo e pelo SporTV e posso ouvir o narrador "de sempre" Galvão Bueno, posso ouvir o narrador escalado pelo SporTV e posso ouvir pelo rádio, na Band News FM e na Jovem Pan.
Dentre todas as alternativas, adianto que vou ficar com o tradicional duo Globo-Galvão. Não que não goste dos outros, mas a despeito dos erros da figura que narra todas as competições relevantes (e algumas irrelevantes) transmitidas pela Globo - erros aos quais estão sujeitos todos os que narram ao vivo -, eu não julgo ser o Galvão um locutor tão ruim quanto seus detratores o pintam. Entre erros e acertos, tem mais acertos na minha conta.
Claro que vão dizer que ele fala muita besteira, que ele é ufanista, que às vezes quer adivinhar o que está acontecendo, que gosta de dizer que circula nos meios políticos-desportivos, etc... Mas pergunto: Os outros também não fazem o mesmo, em maior ou menor intensidade? Será o Galvão tão ruim assim? Por que desperta tamanha repulsa? Deve ser porque não é "expert" em tudo o que narra.
O Brasil, terra dos "experts" - dos pilotos de Fórmula 1 sem carteira de habilitação; dos técnicos e jogadores de futebol da peladinha do fim-de-semana; dos levantadores e atacantes da seleção de vôlei da festa de confraternização da empresa; dos ginastas que não sabem dar cambalhotas; dos iatistas que não sabem nadar ou dar nós; do doente que acha que sabe mais que o médicos e se automedica; dos blogueiros (eu inclusive) que se acham escritores, cronistas e analistas políticos, culinários, esportivos e etc -, não admite que se erre em rede nacional. Assim como os torcedores "pachecos" dos brasileiros em todos os esportes não aceitam o que eles chamam de "ufanismo" do locutor oficial global. E os torcedores de times - que perderam, claro - que reclamam que o narrador estaria torcendo para o outro time.
O brasileiro é um povo esquisito. Ninguém assite novelas, BBB, Faustão, Gugu, Sérgio Mallandro, Silvio Santos, Raul Gil, Gilberto Barros, Luciana Gimenez e outros. Pergunto então eu: Por que esses artistas estão há tanto tempo em nossas telas e ganhando tanto? E pergunto ainda: Por que todo mundo sabe o que acontece na novela, quem são os BBBs, quais os convidados do Faustão e do Gugu, as pegadinhas do Sérgio Mallandro, as besteiras que a Luciana Gimenez fala, etc. se ninguém assiste? "Ah, é porque eu estava "zapeando" e parei no canal..."
Sei, sei...
E da mesma forma que ocorre com os artistas citados há pouco, todo mundo, no final das contas, acaba sempre ouvindo o Galvão.
Torço para que um dia esse esporte tão brasileiro, o "Jogar Coisas na Geni" seja reconhecido como esporte olímpico e narrado pelo Galvão Bueno, a Geni da locução esportiva.

20.2.08

Edição extraordinária!!!

nova postagem no Twenty Fingers Blog (www.20fingers.blogspot.com ou no link ao lado).